segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Regencia...



Foto: Dell Gama em casa, com seu quiver para Regencia.


Inscrições:

R$ 125,00
Banco Banestes - 021
Agência: 0236
Conta corrente nº: 18301945
Federação de Surf do Espírito Santo

Mais informações:

Nelson Ferreira - (27) 9311-0414 - nelsonfn@ig.com.br
Marcelo Márcio - (27) 9259-8516 - marcelomarcio02@hotmail.com

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Pensamentos!!! Um pouco do life style do blog... http://ilusaovisualmentemental.blogspot.com


Achou!!!
Tenha a seriedade de uma criança que brinca!!


Os poderosos...
Apenas são poderosos,
se acharem que são!!



Treine! Leitura... treinamento cerebral!!!
Viaje e adquira experiência sem sair do lugar!

Compartilhando um pouco!!!

"Ilusao visualmente mental" Abraco!!!Cassio Sanchez

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O surfista rebelde e os poetas.








Aprendi desde criança / Que é melhor me calar / E dançar conforme a dança / Do que jamais ousar.” (Antônio Cícero).



Um dos efeitos da popularização do surf foi necessariamente a perda de grande parte do seu charme, vocês sabem: volume dilui essência.



Quem contestava tornou-se aceito. Se o rebelde é locupletado não é mais rebelde. Se tiver o rabo preso, não contesta, logo, é mais um, é bagaço.

Quando digo "contestar", não quero dizer confronto físico, embora não seja uma hipótese descartável. Quero dizer postura. Está mais para confronto cultural. Ser fiel ao que se é, e agir tal qual. Isso incomoda o circo.

O palhaço não pode querer dar uma de trapezista! Por que não? Neste processo histórico, quem não se importava com as convenções sociais - por exemplo, o surfista -, sentiu-se impelido a adaptar-se a elas a fim de ser aceito e ter sucesso econômico-financeiro.

Afinal, alegamos, todos temos contas para pagar, os filhos na escola, IPTU, água, luz, telefone, parafina e gás - menos gás, neste caso.

O roteiro de sempre: o sistema recebe o novo impacto, absorve o conflito, engole o vírus que o ataca, transmuta o seu DNA para que ele faça parte do "corpo social", e expele o resultado, já digerido, inofensivo e infeliz. O pintor Pablo Picasso dizia que "A arte é uma mentira mais verdadeira que a verdade", e, como o surf é arte...

O monstro-visigodo que ameaçava os muros de pedra da sociedade vira pedregulho, e, com um pouco de massa de concreto (grana), passa a reforçar e fazer parte do próprio muro contra novos ataques de novos bárbaros.

É como se o tecido social necessitasse, periodicamente, de confrontação para testar seus alicerces, evitar esgarçamento e, na melhor das hipóteses, sair mais fortalecido e, na pior - para o muro, claro -, ser destruído, afim de que uma nova ordem se instale.

O discurso se consolida, permanece inalterado, e todos nós, zumbis sociais, perambulamos felizes pela crosta do planeta até a morte. Nesse caso, o vírus-surfista, na sua esmagadora maioria, diante de recompensas tanto vistosas quanto duvidosas - espelhos, quinquilharias, cerveja, gostosas meio carne, meio silicone, e troféus -, acaba na maior parte das vezes cedendo.

Nasce aí o "surfista comportado", ou que se faz de comportado, que é amado pelas mães, que não exibe declarações excessivamente polêmicas (só na medida), que não come meleca do nariz - e ainda mais em público - como o técnico da Alemanha, que preserva a imagem do seu patrocinador em troca de poder manter o seu sonho apesar de que, a partir daí, já não é mais exatamente o que ele sonhou... E que troca a antiga imagem de "vagabundo de praia", pela de bom moço, clean, de sucesso, aceito e aclamado. O cara se enquadrou no formato de performance exigido nas baterias e estendeu essa atitude para a vida.

E agora? O Homem nasceu incompleto. É da incompletude do homem que nasce a arte, o surf, a religião, a filosofia - que quer dizer "amor pela sabedoria". O ser humano vive no mundo da cultura, que ele inventou. O surf está em outra esfera, faz parte da incompletude, que alguns chamam de magia, outros de samadhy.

O surf está pasteurizado e embalado para presente? Sim. Foi tornado algo palatável para as multidões? Com certeza. O mar não está nem aí e continua quebrando suas ondas da mesma forma. É um consolo e também um paliativo perigoso. Somos cada vez menos mar e cada vez mais terra. Mais matéria e menos consciência.

Ganhamos algo nessa parábola de apenas 30 anos, e perdemos também muito, talvez parte do que chamamos de "essência" - a famosa e tão difamada, tornando-a um conceito praticamente incompreensível. "Sou feliz porque tenho mais, não porque sou mais quem eu sou". Essa postura não me parece muito confortável do ponto de vista emocional e até espiritual, embora do ponto de vista material haja ganhos indiscutíveis.

Diz algo e também muito sobre o mundo de hoje. Diz muito, também, sobre o que escolhemos ser, sobre a relação de troca que nos é imposta. Devemos aceitá-la? Aponta a necessidade de um equilíbrio ainda distante, do qual, nós, surfistas, deveríamos ser mestres.

Estamos nas novelas, estamos nos outdoors, estamos nas pastas de dente, estamos fudidos.

Nós somos descendentes de uma tribo de nobres guerreiros. O que nos tornamos? Nossos antepassados espirituais havaianos nos veriam nessa situação com orgulho?
"Ser compreendido é prostituir-se", como diria o poeta Fernando Pessoa. Pessoa preferia o sofrimento ao tédio. Ele diz: você gostaria de ser "um homem que envelhece solitário e que nunca ousou nada na vida além de suas fantasias: “comerei um pêssego”?

Outro poeta, Ferreira Gullar, relativiza: "Acham que qualquer coisa que vai contra o que está estabelecido é bom. Mas não é! ". Eu não disse qualquer coisa, Gullar.

Sim, amigos, me desculpem, não tenho as soluções, apenas as perguntas. Só sei que a sensação de surfar uma onda mágica / artística, só, do outro lado do mundo, ou mesmo no quintal de casa, não tem nada a ver com o que acontece em terra firme.

O surf também não é o surfwear. O último é uma tosca adaptação humana de algo divino. São mundos paralelos, e, ao se tentar juntá-los, de forma impositiva e artificial, criamos Franksteins palermas sugados pelo Drácula cultural, metade "sucesso", metade resina, metade dinheiro. Muito pouca água salgada, vento no rosto e ondulações.

Por Sidão Tenucci é surfista.